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Sumário
ToggleIntrodução ao estudo bíblico do Evangelho de João
Autoria e contexto
Desde o século II d.C., o Evangelho de João tem sido tradicionalmente atribuído ao apóstolo João, filho de Zebedeu. Essa associação se deve, em grande parte, às referências ao “discípulo amado” presentes no livro. Em João 21:24, encontramos uma declaração que liga o autor do evangelho ao discípulo amado:
“Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e as escreveu. E sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.”
João 21:24 – NVI
Essa passagem é interpretada por muitos estudiosos como uma indicação de que João, o apóstolo, é o autor do evangelho, dado seu papel de testemunha ocular dos eventos descritos.
Contexto Histórico e Cultural
O Evangelho de João foi provavelmente escrito entre os anos de 85 e 110 d.C., em um período em que a igreja cristã estava se expandindo e enfrentando desafios tanto internos quanto externos. Este evangelho difere dos outros três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) em estilo e conteúdo, oferecendo uma perspectiva mais teológica e reflexiva sobre a vida e o ministério de Jesus, o Messias.
João escreveu seu evangelho em um contexto cultural e religioso diversificado. Ele estava direcionado a uma comunidade de crentes que incluía tanto judeus quanto gentios. A intenção de João era afirmar a divindade de Jesus e fortalecer a fé dos cristãos em meio a disputas teológicas e perseguições. A insistência em Jesus como o Filho de Deus e o Salvador do mundo é uma resposta direta aos desafios enfrentados pela igreja primitiva.
Estrutura e Temas Principais
O Evangelho de João é estruturado em torno de sinais milagrosos realizados por Jesus e discursos que explicam seu significado. Entre os temas principais estão:
- Divindade de Jesus: João apresenta Jesus como o Verbo (Logos) eterno, que estava com Deus e era Deus (João 1:1).
- Luz e Trevas: O evangelho usa a metáfora da luz e das trevas para contrastar o bem e o mal, a verdade e a falsidade.
- Vida Eterna: João enfatiza que a fé em Jesus é o caminho para a vida eterna.
- O Espírito Santo: O papel do Espírito Santo como Consolador e Guia é destacado nos discursos de despedida de Jesus (João 14-16)
Propósito do Evangelho
O propósito do Evangelho de João é claramente declarado em João 20:31:
“Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, crendo, tenham vida em seu nome.”
João 20:31 – NVI
Com esse objetivo, João escreveu para inspirar fé em Jesus Cristo como o Filho de Deus e assegurar aos crentes a vida eterna por meio dessa fé.
Processo de composição do livro de João
Segundo Raymond Brown (2006), é necessário entender que a história da comunidade está atrelada à história do Evangelho e não aconteceu toda de uma vez.
Vejamos então como se deu esse processo.
- 1ª Fase: neste período, a comunidade de João vivia sob a energia da pregação dos apóstolos e circulava pela Judeia. Faziam parte do grupo discípulos de Jesus, discípulos de João Batista que seguiram Jesus, samaritanos que creram nas palavras dele e eram contrários ao Templo. Essa é a fase oral, que pode ser considerada entre 40 a 70.
- 2ª Fase: o Evangelho começa a ser escrito, reunindo as memórias dos discípulos dos vários grupos em torno de uma narrativa conjugada acerca de Jesus, aqui declarado Profeta e Messias. Nessa etapa, a comunidade vai mais para o norte, provavelmente na Transjordânia (Jordânia – atualmente) ou até mesmo em Caná da Galileia, cidade citada diversas vezes no Evangelho. Essa fase deve ter durado de 70 a 90.
- Como identificação dessa etapa, temos os “sinais”, em especial as narrativas em Jerusalém e nas festas, além da Tradição da Paixão, que a comunidade de João guarda em conjunto com os demais Evangelhos. Outra característica importante dessa fase é a descrição mais precisa da geografia da Palestina, melhor que a dos demais autores.
- 3ª Fase: com a crise judaica, devido à destruição do Templo e a discussão em torno dos cristãos nas sinagogas, a comunidade é obrigada a repensar sua trajetória. Textos como João 9.22 e 16.2-3 indicam a situação concreta de expulsão de cristãos, além de perseguição. Por isso, há uma revisão na posição contra os “judeus”, que não seriam a totalidade do povo, mas os líderes. Essa fase vai de 90 a 100 e, para alguns, mostra a comunidade indo mais ao norte, talvez Síria, com o fim de não ficarem sob a perseguição dos judeus. Nessa fase, a comunidade começa a ampliar sua reflexão, inserindo diálogos de Jesus com líderes judeus, com a samaritana, além de discursos que fundamentam a fé da comunidade. Algumas passagens, como João 3, 4 e 6, ganham misticismos, indicando que parte da comunidade está envolvida por uma mentalidade pré-gnóstica.
- 4ª Fase: É a fase da redação final, que acredita ter se resumido na data de 110 d.C.
Diferenças entre os Evangelhos sinóticos sobre a fé e milagres
Nos outros Evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas), a fé é requerida para que o milagre ocorra. No Evangelho de João, ocorre uma inversão: os milagres tem justamente a função de provocar a fé nas pessoas. Veja:
Nos capítulos:
- 2:11 – Jesus fez seu primeiro milagre em Caná da Galileia. Assim ele revelou a sua natureza divina, e os seus discípulos creram nele.
- 6:14 – A multiplicação dos pães e peixes provoca declarações de fé do povo.
- 9:35-37 – Cego curado declara sua fé.
- 11:45 – As pessoas creem ao ver Lázaro ressuscitado. (Muitas pessoas que tinham ido visitar Maria viram o que Jesus tinha feito e creram nele.)
Diferenças Entre os Evangelhos Sinóticos e o Evangelho de João
- Estilo e Conteúdo:
- O Evangelho de João difere dos Evangelhos Sinóticos em estilo e conteúdo. João apresenta discursos mais longos de Jesus e aborda temas teológicos de maneira mais exposta que os outros Evangelhos.
- Cronologia:
- João apresenta uma cronologia diferente dos eventos da vida de Jesus, incluindo a duração do ministério público de Jesus e a ordem dos eventos.
- Focos Temáticos:
- Enquanto os Evangelhos Sinóticos se concentram mais nos atos e ensinamentos de Jesus, João enfatiza a divindade de Jesus e sua relação com o Pai.
- Pregação:
- Outra forma de diferenciar o Evangelho de João dos sinóticos são os termos utilizados pelos autores. Exemplos:
- João é o Evangelho que mais utiliza o termo “crer”, “amar”, “verdade”, “mundo”, “testemunha”, “vida” e “luz”.
- Em contrapartida, João não utiliza os termos: “arrependimento”, “oração – orar” e “proclamar”.
- Outra forma de diferenciar o Evangelho de João dos sinóticos são os termos utilizados pelos autores. Exemplos:
- Presente e agora:
- João não foca na escatologia (discurso projetado para o futuro), por isso, em seu Evangelho somos confrontados por Jesus a tomar posição, pois a eternidade começa agora. Exemplos:
- 4.23: Mas virá o tempo, e, de fato, já chegou, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e em verdade.
- 5.25-26: Eu afirmo a vocês que isto é verdade: vem a hora, e ela já chegou, em que os mortos vão ouvir a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.
- 20.22-23: sopro do Espírito com Jesus presente. (Recebam o Espírito Santo. Se vocês perdoarem os pecados de alguém, esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não são perdoados.)
- João não foca na escatologia (discurso projetado para o futuro), por isso, em seu Evangelho somos confrontados por Jesus a tomar posição, pois a eternidade começa agora. Exemplos:
Glossário:
- Misticismos: Tendência para crer em entidades ou forças sobrenaturais. Crença de que uma pessoa se consegue comunicar com uma entidade espiritual e/ou receber mensagens desta. (Fonte: Misticismos – Dicio, Dicionário Online de Português)
- Gnosticismo: Em grego, Gnosticismo significa “conhecimento”. Movimento filosófico teológico que considera o conhecimento como decisivo para a salvação. Nasce antes do cristianismo com elementos de diversas culturas antigas. O gnosticismo pregava que o mundo havia sido criado por uma divindade imperfeita e que, por isso, a vida na Terra era apenas uma forma maléfica usada para aprisionar o espírito humano e que o bem só seria alcançável em um nível espiritual. Também por isso, eles acreditavam que não havia porque nos culparmos pelos males existentes na Terra, uma vez que tudo isso era propiciado pela prisão material da qual deveríamos nos libertar e que fora criada pelo deus mal que criara a Terra. (Fonte: https://www.infoescola.com/cristianismo/gnosticismo/ + Dicionário Bíblico (online))
- Evangelho sinótico: O termo “sinótico” vem do grego “synoptikos,” que significa “ver junto” ou “visão comum.” Esse termo é usado para descrever os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas porque eles podem ser colocados lado a lado e comparados em uma sinopse, devido à sua semelhança em conteúdo, estrutura e narrativa.
- Escatologia: A escatologia é um ramo da teologia cristã que estuda os eventos finais da história do mundo e o destino último da humanidade, de acordo com a crença cristã. O termo “escatologia” vem do grego “eschatos,” que significa “último” ou “fim,” e “logos,” que significa “estudo” ou “discurso.” Portanto, escatologia é o estudo das “últimas coisas.”
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