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Sumário
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Título | Estudo Bíblico – Evangelho de Mateus |
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Premissa | Compreender a Bíblia no contexto original judaico. |
Escrito por | Fernando Rabello – fernandorabello@estudandoabiblia.org |
Capítulo 15
Discussão sobre as tradições dos fariseus
Vindos de Jerusalém a Genesaré, fariseus e escribas se aproximaram de Jesus, observando atentamente Seus ensinos e os atos dos discípulos. Ao perceberem que os discípulos de Jesus não lavavam as mãos antes de comer, escribas e fariseus expressaram seu escândalo. Para eles, conforme a tradição oral judaica, tal ato era não apenas uma prática, mas algo sagrado diante de Deus. No entanto, Jesus, ao ser confrontado pelos atos dos discípulos por não lavarem as mãos, revidou com uma profunda questão: indagou por que eles optavam por invalidar a Lei de Deus em prol de tradições humanas, principalmente quando negligenciavam o mandamento de ¹honrar pai e mãe em favor de seus rituais religiosos.
A resposta silenciosa dos fariseus foi interrompida quando Jesus revelou uma verdade profunda: o que contamina o homem não é o que entra, mas o que sai de seu interior. Para os líderes religiosos, que seguiam meticulosamente tradições como lavar as mãos mas frequentemente ignoravam preceitos fundamentais da Lei, essa declaração foi chocante. Este episódio nos mostra a importância de cultivar um relacionamento genuíno com Deus, ancorado na oração e na prática da Palavra, evitando assim que práticas religiosas vazias obscureçam a verdadeira essência da fé bíblica.
Jesus, em sua sabedoria, revelou que é do interior do homem, especificamente do coração, que procedem pensamentos e intenções impuras como assassinatos, adultérios, roubos, entre outros. Esses sentimentos, quando manifestados, revelam a natureza corrupta da humanidade. Entretanto, o coração, quando alinhado ao espírito e guiado por Deus, é capaz de produzir atitudes virtuosas. Por isso, cultivar um relacionamento profundo com Deus e Sua Palavra é essencial para que floresçam de nosso interior ações louváveis e condizentes com a vontade divina.
Cura da filha de uma mulher cananeia
Jesus, ao chegar na região de Tiro e Sidom, na Síria, encontrou uma mulher que o seguia insistentemente, clamando por ajuda para sua filha endemoninhada. Observando a insistência da mulher e a aparente indiferença de Jesus, os discípulos sugeriram que Ele atendesse ao seu pedido, para que ela parasse de os importunar. Percebendo a crescente tensão, a mulher se prostrou diante de Jesus, exclamando: “Socorre-me!” Em resposta, Jesus lhe disse que não era correto retirar o pão dos filhos para dá-lo aos cachorros. Com humildade e fé, a cananeia retrucou que até os cachorrinhos se alimentam das migalhas que caem da mesa de seus donos. Impressionado com a profunda fé da mulher, Jesus declarou que sua súplica foi atendida, e a filha dela foi curada conforme seu pedido.
Algumas observações devem ser pautadas nessa passagem. Pelo que você leu e entendeu, Jesus ignorou essa mulher. Diferentemente de todas as ocasiões, onde, ao andar por uma cidade ou outra, pessoas seguiam e pediam curas a Jesus que prontamente as curava. Então, por que agora, neste caso específico, Jesus ignora essa mulher por um breve momento e depois atende ao seu pedido?
A resposta está, em primeiro lugar, na demonstração de que Jesus veio para cumprir a promessa de Deus: o Messias viria primeiramente para salvar Israel. Isso é evidenciado quando Jesus instrui os discípulos, no capítulo 10, a viajarem por todo Israel, anunciando a vinda do Reino dos Céus e a evitar as cidades dos gentios. Essa missão se liga diretamente à profecia de Isaías 53, onde se prediz que o Messias seria transpassado, morto e traído pelo seu próprio povo.
Assim, para cumprir fielmente as Escrituras, Jesus hesita em atender imediatamente à mulher, testando sua persistência. Quando ele se refere ao “pão” — uma metáfora para a bênção de Deus — e diz que foi prometido aos filhos de Israel, indica que, neste momento específico da história, a bênção não poderia ser compartilhada com os gentios. A referência a “cães”, como mencionado nessa passagem, revela a visão dos judeus sobre os gentios naquela época: uma visão de desprezo, influenciada pelos costumes idólatras e práticas repulsivas dos povos não-judeus.
Mas, será que Deus é apenas o Deus dos judeus? A Bíblia responde que não. Deus escolheu Israel, mas Ele criou a todos nós. E, embora tenhamos trilhado caminhos diferentes dos judeus, ainda somos feitos à imagem e semelhança de Deus, tendo Jesus como referência. A mulher cananeia, ao mencionar as migalhas, não apenas revela sua fé, mas também antecipa o plano de Deus para os gentios. Embora, neste momento da história, Jesus ainda não tivesse se revelado completamente a eles, a cura da filha da mulher é uma prefiguração do que viria a acontecer: a extensão da salvação a todos os povos.
É relevante notar que regiões como a Síria e Samaria eram habitadas por povos que tinham grande animosidade com os judeus. Samaria, em particular, foi palco de injustiças com os judeus na época da reconstrução do segundo templo no tempo de Esdras e Neemias. Deus permitiu a divisão das 12 tribos de Israel devido à rebeldia de algumas delas. Essas tribos rebeldes foram chamadas de israelitas, enquanto as tribos fiéis foram nomeadas como Judá — origem do termo “judeu”. A divisão ocorreu por causa do pecado, mas a promessa divina era de restauração. Deus sempre quis nossa aproximação, e o Messias é o caminho para retornarmos à criação original divina.
Cura aos gentios
Seguindo o fluxo da história de Mateus, Jesus dirige-se à região da Galileia. Essa área era habitada tanto por gentios quanto por judeus; uma região mista, com predominância de gentios. Como de costume, Jesus procura um monte para orar e ficar reservado. Devido à sua localização elevada e de difícil acesso, a montanha oferecia tranquilidade em contraste com a agitada região térrea da Galileia. Contudo, a fama de Jesus e sua capacidade de curar atraíram muitos; cegos, aleijados, mudos e pessoas com diversas enfermidades procuraram-no. Ele atendeu a todos, realizando curas e milagres. Aqueles que testemunharam tais feitos ficaram maravilhados: ver os mudos falarem, os cegos enxergarem e os aleijados andarem causou grande impacto. Todos glorificaram o Deus de Israel por tais maravilhas.
Segunda multiplicação dos pães
A segunda multiplicação de pães é mencionada apenas nos livros de Mateus e Marcos (8:1-10); Lucas e João relatam apenas uma. Ocorrendo em território gentio, na região da Galileia, é possível que Jesus tenha alimentado muito mais pessoas em outras ocasiões, mas que nem todas tenham sido registradas. De acordo com a Bíblia de Jerusalém, esta narrativa pode ter surgido em um ambiente cristão de origem gentílica. O fato de o milagre acontecer na margem oriental do lago, predominantemente habitada por gentios, e a menção de sete cestos (um número que remete às nações de Canaã e aos diáconos helenistas, conforme At 6:5; 21:8) apoia essa ideia. Além disso, é intrigante observar a reação dos discípulos quando questionados sobre a disponibilidade de pães e peixes: eles se comportam como se nunca tivessem testemunhado a primeira multiplicação.
Todos os dias, somos nutridos por Jesus, seja espiritual ou fisicamente. Não devemos limitar o poder de Deus: mesmo que leiamos que Ele alimentou as multidões em uma ocasião específica, saibamos que Ele poderia ter realizado o mesmo milagre inúmeras vezes sem que fosse registrado. Somente aqueles que verdadeiramente experienciam Jesus podem atestar a magnitude de Suas bênçãos.
Notas de rodapé:
¹ – Honrar pai e mãe: No contexto da cultura judaica antiga, honrar pai e mãe ia além do simples respeito verbal ou atitudinal. Incluía a responsabilidade de cuidar deles em sua velhice ou em tempos de necessidade. A honra envolvia a provisão material e física, garantindo que as necessidades deles fossem atendidas. O mandamento de “honrar teu pai e tua mãe” (Êxodo 20:12) é um dos Dez Mandamentos e tinha implicações práticas na sociedade israelita. Ele não se referia apenas a mostrar respeito, mas também a cuidar deles em termos práticos. Isso é visto em várias partes da Bíblia hebraica e também é refletido nas críticas de Jesus aos líderes religiosos de Seu tempo, inclusive, os fariseus e escribas encontraram maneiras de contornar essa responsabilidade através de tradições como o “Corbã” (Marcos 7:10-13).
Durante os tempos de Jesus, existia uma prática, denominada “corbã”, que possibilitava aos judeus consagrar seus bens ao templo, evitando assim a responsabilidade de prover para seus pais idosos. Sob a pretensão de estar servindo a Deus, muitos negligenciavam o mandamento original.
Na Bíblia, o mandamento de “honrar teu pai e tua mãe” é fundamental e tem diversas implicações, veja aqui alguma referências:
- Êxodo 20:12: “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá.” Este é o mandamento original como foi dado nos Dez Mandamentos. Notavelmente, é o único mandamento com uma promessa explícita anexada a ele.
A promessa divina neste mandamento é intrigante: não são os dias dos pais que serão prolongados, mas sim os dos filhos que os honram. - Deuteronômio 5:16: Uma repetição do mandamento, mas com uma formulação ligeiramente diferente: “Honra a teu pai e a tua mãe, como te ordenou o SENHOR, teu Deus, para que se prolonguem os teus dias e prosperes na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá.”
- Provérbios 23:22: “Ouve a teu pai, que te gerou, e não desprezes a tua mãe, quando vier a envelhecer.” Este versículo reitera a importância de honrar os pais, especialmente à medida que envelhecem, o que pode incluir cuidar de suas necessidades físicas e emocionais.
- Efésios 6:1-3: “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra.” Aqui, o apóstolo Paulo reitera o mandamento no contexto do Novo Testamento, enfatizando que ainda se aplica aos cristãos.
- Talmude, Kidushin 30b: Os rabinos discutem o que significa exatamente “honrar” e diferenciam entre “honrar” e “temer”. Honrar envolve ações físicas, como alimentar e vestir, enquanto temer significa, por exemplo, não se sentar no lugar deles ou contradizê-los.
- Talmude, Bava Metzia 32a: O mandamento de honrar os pais é tão grande que é comparado à honra devida a Deus.
Fernando Rabello (11) 9 5489-8507
fernandorabello@estudandoabiblia.org
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