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Sumário
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Título | Estudo Bíblico – Evangelho de Mateus |
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Premissa | Compreender a Bíblia no contexto original judaico. |
Escrito por | Fernando Rabello – fernandorabello@estudandoabiblia.org |
Capítulo 16
Querem um sinal de Jesus
Os fariseus e ¹saduceus aproximaram-se de Jesus exigindo um sinal dos céus como prova de que Ele era, de fato, o Messias. No decorrer de nossos estudos, observamos incontáveis milagres operados por Jesus, incluindo a ressurreição da filha de Jairo, um líder da sinagoga. Se esses eventos extraordinários não constituem sinais suficientes, o que mais poderiam desejar? Jesus lhes responde de forma incisiva: eles são aptos a interpretar os sinais do clima, mas se mostram cegos aos sinais proféticos das Escrituras. O único sinal que lhes será concedido, afirma Jesus, é o “sinal de Jonas” – aludindo ao tempo em que Jonas passou no ventre de um grande peixe e antecipando Seus próprios três dias no sepulcro. Que tenhamos a sabedoria para discernir os sinais de Jesus e evitar pedir-lhe provas supérfluas, imitando o ceticismo dos fariseus e saduceus.
O fermento dos fariseus e dos saduceus
Mesmo estando lado a lado com Jesus, os discípulos enfrentavam dificuldades para entender suas mensagens profundas — isso nos faz refletir sobre nossa própria compreensão que, separada pelo tempo e pela cultura temos ainda mais dificuldades de entendimento, pois se não nos apoiarmos na leitura da Bíblia e na oração, não teremos um entendimento mais próximo da dos discípulos.
Quando Jesus falou sobre o “fermento dos fariseus e dos saduceus”, seus discípulos pensaram que se tratava de uma repreensão sobre o pão físico que haviam esquecido de levar; mas Jesus usou o fermento como simbolismo para ensinar sobre a influência e o impacto dos ensinamentos dos líderes religiosos. Ele advertia que, assim como o fermento muda a essência do pão, as doutrinas dos fariseus e saduceus eram externamente atraentes, mas internamente corrompidas.
A advertência de Jesus é clara: devemos ter cautela com ensinamentos que, embora pareçam corretos e atraentes na superfície, carregam dentro de si a deterioração da verdade. O desafio é buscar a autenticidade e a integridade, discernindo além das aparências.
O chamado de Pedro
Em Cesareia de Filipe, Jesus provocou uma discussão transformadora com os discípulos, uma que definiria a trajetória de Pedro e o futuro da Igreja. A questão inicial de Jesus foi simples: Ele queria saber o que as pessoas pensavam sobre sua identidade. As respostas variaram, com algumas pessoas acreditando que Jesus era João Batista reencarnado, outros Elias, ou um dos profetas antigos.
Então, Jesus se voltou diretamente para seus discípulos com uma pergunta mais pessoal: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Pedro, com convicção, reconheceu Jesus como o “Messias, o Filho do Deus vivo”. Jesus, por sua vez, afirmou que essa compreensão não veio de pensamentos humanos, mas foi uma revelação divina concedida a Pedro. Com um jogo de palavras envolvendo o nome de Pedro, que significa ‘rocha’ em grego, Jesus declarou que sobre essa ‘rocha’ Ele construiria Sua Igreja — uma instituição que resistiria ao poder destrutivo da morte. Aqui, é importante notar que há um debate significativo sobre o que “esta rocha” realmente significa, com diferentes tradições interpretando de maneiras diversas.
Essa passagem, rica em simbolismo e significado, é fundamental para entender a relação entre Jesus, Pedro e o estabelecimento da Igreja. Jesus não só reafirma o papel central de Pedro, mas também sinaliza a natureza indestrutível da comunidade de fé que Ele está estabelecendo — uma comunidade destinada a superar todas as adversidades.
Vamos parar por aqui por um instante para dar uma explicação sobre o que ocorreu até estre trecho das escrituras:
A Explicação Teológica de Mateus 16:13-20 e o Conceito de Ekklesia (‘kahal’ (כחל))
A reflexão sobre Mateus 16:13-20 leva-nos às raízes do termo “ekklesia” (ἐκκλησία) — a palavra grega frequentemente traduzida como “igreja” em muitas versões bíblicas. Este termo, contudo, é derivado de um conceito muito mais antigo, não se restringindo apenas ao contexto grego. No hebraico, temos a palavra “kahal” (כחל), que traz consigo ideias de “assembleia”, “convocação” ou “congregação”.
A narrativa bíblica mostra que, desde a queda no Éden, Deus buscou maneiras de restaurar a humanidade à comunhão e santidade original. Com o chamado de Abraão, o propósito divino era iluminar os seres humanos quanto à sua origem e destino eterno. Nesse sentido, a ideia de uma comunidade unida pela filiação divina já estava presente muito antes da proclamação de Jesus a Pedro.
O que Jesus estabelece aqui, por meio de sua conversa com Pedro, é uma expansão desse conceito de comunidade. Essa expansão transcende as fronteiras de Israel e se abre para incluir todos os que obedecem a Deus e reconhecem Jesus como o Messias. Esta “assembleia” de crentes não é uma ideia nova; ela estava aberta à humanidade desde o princípio e não se limitava ao povo judeu, embora inicialmente tenha sido por meio deles que Deus revelou Sua vontade.
A função de Pedro, chamado de “pequena pedra”, ganha nova dimensão nesta passagem. Ele é incumbido de ser uma liderança terrena após a ascensão de Jesus, utilizando os ensinamentos do Mestre como fundamento para as futuras gerações de crentes. Pedro, juntamente com os outros apóstolos — todos judeus — tornam-se o alicerce sobre o qual a “ekklesia” se expandiria, incluindo gentios na comunidade dos filhos de Deus.
A revelação concedida a Pedro, que Jesus é o “Messias, o Filho do Deus vivo”, não é produto de sabedoria humana, mas uma verdade divinamente revelada. Este reconhecimento de Jesus como cabeça da Igreja é essencial para a identidade da “ekklesia” que Jesus pretende edificar. A inclusão dos gentios, prevista nos ensinamentos de Jesus e executada pelo ministério dos apóstolos, confirma que o plano de Deus para a salvação é abrangente e inclusivo.
A igreja que sempre existiu e foi instrumento de união dos filhos de Deus
No prosseguimento de Mateus 16, Jesus fala sobre a autoridade que está conferindo a Pedro. Quando Jesus diz que o que Pedro “ligar na terra será ligado nos céus”, Ele está, em essência, dando a Pedro e, por extensão aos outros apóstolos, a capacidade de estabelecer diretrizes dentro da comunidade de crentes. Essa autoridade, que é derivada da orientação divina, permite que Pedro faça julgamentos e tome decisões que estarão alinhadas com a vontade de Deus, conforme ele é guiado pelo Espírito Santo de Deus.
A linguagem de “ligar e desligar” tem raízes no judaísmo rabínico, sendo uma forma de descrever o processo pelo qual os rabinos estabeleciam ou proibiam práticas — uma forma de exercer disciplina e orientação dentro da comunidade. Jesus utiliza essa linguagem familiar aos seus discípulos para comunicar a ideia de que eles terão autoridade para estabelecer a ordem na igreja e ensinar os caminhos de Deus.
A Revelação e a Continuidade da Missão
Pedro, que teve o conhecimento sobre a verdadeira identidade de Jesus revelada por Deus, é agora incumbido de levar adiante a missão de Cristo na Terra. Esta missão envolve ensinar, guiar e manter a doutrina conforme estabelecida por Jesus. Após a partida de Jesus, será responsabilidade de Pedro e dos outros apóstolos serem os líderes e exemplos para as futuras gerações de cristãos.
A Igreja como Extensão do Plano de Deus
A igreja, entendida aqui como a comunidade de seguidores do Messias, é uma extensão do plano de Deus que começou com a chamada de Abraão. Esta comunidade não é restrita ao povo de Israel, mas está aberta a todos os que reconhecem Jesus como o Cristo, o Filho do Deus vivo. A partir do ministério de Jesus, a comunidade de crentes passa a ser identificada com a igreja, que tem suas raízes nas promessas e ensinamentos de Deus ao longo de toda a história bíblica.
A missão da igreja é, portanto, a continuação do trabalho divino de reconciliar os seres humanos com Deus, trazendo-os de volta à comunhão perfeita que foi perdida no Éden. Deus continua a trabalhar na história por meio de pessoas escolhidas para liderar e ensinar, buscando restaurar toda a criação à sua glória original.
Em resumo, as palavras de Jesus a Pedro ressoam através dos séculos, fundamentando o papel dos líderes na igreja e confirmando o propósito de Deus de estabelecer uma comunidade global de crentes — uma comunidade que, desde os tempos de Abraão, está destinada a ser o instrumento de Deus para a salvação do mundo.
Primeiro anúncio da morte de Jesus
A passagem de Mateus 16:21-23 é um ponto crucial no ministério de Jesus, pois marca a primeira vez que Ele anuncia explicitamente Seu sofrimento iminente e morte aos Seus discípulos. Esta revelação deixa claro que a missão de Jesus não é apenas de ensino e milagres, mas também de sacrifício e redenção.
Mateus 16:21-23 (NVI):
21. Daí em diante Jesus começou a explicar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém e sofresse muitas coisas nas mãos dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos mestres da lei, que fosse morto e ressuscitasse no terceiro dia.
Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: “De maneira nenhuma, Senhor! Isso nunca te acontecerá!”
Jesus virou-se e disse a Pedro: “Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim; você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens.”
A Reação de Pedro
Pedro, que pouco antes havia sido elogiado por sua confissão de fé, agora mostra sua compreensão ainda limitada dos propósitos de Deus. Sua reação é tipicamente humana; ele quer proteger Jesus dos sofrimentos anunciados, o que é uma resposta natural de quem ama e respeita seu mestre. Contudo, essa resposta revela uma incompreensão sobre a natureza e necessidade do caminho que Jesus deve trilhar.
A Repreensão de Jesus
A reação de Jesus é imediata e severa. Ao chamar Pedro de “Satanás”, Jesus não está dizendo que Pedro é o diabo, mas que, naquele momento, ele estava agindo como um adversário, um obstrutor do plano divino. O termo “pedra de tropeço” remete à ideia de alguém que está atrapalhando o caminho ou a jornada de outra pessoa. No caso de Jesus, Pedro estava inadvertidamente tentando desviar Jesus de Sua missão salvífica, o que estava alinhado com os objetivos de Satanás, de obstruir o plano de Deus.
Os Planos e Pensamentos de Deus
Esta interação entre Jesus e Pedro é um poderoso lembrete de que os caminhos de Deus muitas vezes contradizem a lógica humana. A visão de salvação de Deus para a humanidade não segue os caminhos esperados pelos homens; em vez de triunfo e poder conforme os padrões humanos, Deus escolhe a humildade, o sofrimento e a morte de Seu Filho como o caminho para a redenção.
Isaías 55:8-9 ressalta a diferença entre as maneiras de Deus e as dos homens, e essa diferença é vividamente demonstrada na reação de Pedro à previsão da paixão de Cristo. A humanidade pode desejar evitar sofrimento e dor a todo custo, mas a narrativa bíblica mostra que Deus pode usar até mesmo esses elementos como parte de Seu plano redentor.
Neste episódio, Jesus começa a preparar Seus discípulos para os eventos difíceis que estão por vir, eventos que culminarão em Sua morte e ressurreição, e que serão fundamentais para a fundação da fé cristã e a salvação dos crentes.
Condições para seguir Jesus
Esses versículos de Mateus 16:24-28 contêm instruções profundas de Jesus sobre o que significa ser Seu discípulo, além de oferecer um vislumbre do futuro escatológico e do retorno de Cristo.
Mateus 16:24-28 (NVI):
24. Então Jesus disse aos seus discípulos: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa a encontrará.
Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou o que o homem poderá dar em troca de sua alma?
Pois o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e recompensará a cada pessoa conforme o que ela tiver feito.
Eu garanto a vocês que alguns que aqui estão não experimentarão a morte antes de verem o Filho do homem vindo em seu Reino.”
Negar a Si Mesmo e Tomar a Cruz
Negar a si mesmo é um chamado para deixar de lado o egoísmo e a autossuficiência. Seguir Jesus envolve um comprometimento que muitas vezes é contrário aos desejos pessoais e ao que o mundo valoriza. Tomar a cruz é uma metáfora para a disposição de enfrentar dificuldades, perseguições e até mesmo a morte por causa de Cristo. Essa é uma chamada para uma vida de sacrifício, de lealdade a Cristo acima de tudo e de um compromisso com os valores do Reino de Deus.
Ganhar o Mundo vs. Perder a Alma
Jesus faz uma pergunta retórica sobre o valor da alma em comparação com as riquezas mundanas. Ganhar o mundo inteiro, no sentido de adquirir riqueza, poder ou prazer, não vale nada se isso significar a perda da própria alma. Nenhuma riqueza pode resgatar uma alma da morte eterna; apenas a salvação oferecida por Cristo pode fazer isso.
O Retorno do Filho do Homem
Jesus promete uma recompensa futura ou julgamento com base nas ações de cada pessoa. O “Filho do homem” é uma referência messiânica, e a promessa de Sua vinda em glória com os anjos implica um julgamento escatológico.
Presenciando o Reino
A afirmação de Jesus de que alguns presentes não morreriam antes de ver o Filho do Homem vindo em Seu Reino tem sido interpretada de várias maneiras. Alguns acreditam que isso foi cumprido na transfiguração de Jesus (que ocorre logo depois, em Mateus 17), onde Ele é visto em glória divina. Outros sugerem que isso se refere à ressurreição e ascensão de Jesus, ao derramamento do Espírito Santo no Pentecostes, ou à destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Ainda outros a veem como uma referência à segunda vinda de Cristo no fim dos tempos.
Este ensino é um convite para uma reflexão profunda sobre as prioridades na vida de um discípulo. Os seguidores de Jesus são chamados a viver de maneira altruísta e orientada para o serviço, mesmo que isso traga custos pessoais. A promessa de que Cristo virá em glória e julgará todas as pessoas segundo suas obras serve como um lembrete de que as escolhas feitas agora têm implicações eternas.
Notas de rodapé:
¹Quem eram os saduceus: Os saduceus eram pessoas da alta sociedade, membros de famílias sacerdotais, cultos, ricos e aristocratas. Dentre eles haviam saído desde o início da ocupação romana os sumos sacerdotes que, nesse momento, eram os representantes judeus diante do poder imperial. Faziam uma interpretação muito sóbria da Torah, sem cair nas numerosas questões casuísticas dos fariseus, e portanto subestimavam o que esses consideravam como sendo a Torah oral.
Ao contrário dos fariseus, não acreditavam na vida após a morte, nem compartilhavam suas esperanças escatológicas. Não gozavam de popularidade nem do afeto popular, dos quais desfrutavam os fariseus, mas tinham poder religioso e político, pelo que eram muito influentes.
Fernando Rabello (11) 9 5489-8507
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