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Sumário
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Título | Estudo Bíblico – Evangelho de Mateus |
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Premissa | Compreender a Bíblia no contexto original judaico. |
Escrito por | Fernando Rabello – fernandorabello@estudandoabiblia.org |
Capítulo 23
A hipocrisia e vaidade dos fariseus e escribas
Em Jerusalém, Jesus se dirige a discípulos, povo, escribas e fariseus. Ele especificamente adverte os escribas e fariseus quanto ao juízo divino decorrente de suas más ações. Jesus orienta discípulos e ouvintes a seguirem os ensinamentos dos fariseus e escribas, pois estes transmitem a Lei de Moisés. Contudo, Ele enfatiza a importância de observar apenas suas palavras, sem imitar suas ações, as quais não refletem a verdade e realidade pregadas. Jesus alerta sobre o perigo de agir como eles, professando uma coisa e fazendo outra, buscando aprovação ou superioridade.
Ele destaca que os fariseus e escribas sobrecarregam o povo e seus seguidores com exigências pesadas, sem oferecer ajuda. As leis rigorosas impostas por eles não são acompanhadas de suporte, e suas ações visam glória pessoal, não a glória de Deus. Eles usam tefilin¹ e tzitzit² para aparentar devoção e buscam honras, como os primeiros assentos em banquetes e sinagogas, além de desejarem saudações públicas e o título de rabi³.
A partir do verso 8, Jesus foca em seus discípulos, e essas orientações nos alcançam igualmente:
Quanto a nós, discípulos de Jesus:
- Não aceitaremos ser chamados de rabi, pois apenas o Messias é nosso mestre.
- Recusaremos o título de “pai” em termos espirituais, pois temos um Pai nos céus.
- Evitaremos ser denominados guias ou líderes, pois somente o Messias é nosso líder.
Antes, o maior dentre nós será aquele que serve os outros. Aquele que se engrandecer será humilhado na frente de todos e aquele que se tornar humilde será engrandecido por Deus.
Antes de darmos continuidade, vamos entender melhor os termos, rabi, pai e líder transmitido por Jesus.
Observações:
Porquê não ser chamado de rabi ou mestre:
- O termo “rabi” é um título honroso que, na época de Jesus, carregava um peso de glória e status para quem o recebia. Jesus critica a busca dos fariseus e escribas por esse título, pois ele alimenta o ego e o desejo de destaque, afastando-os da verdadeira essência de serem servos e filhos de Deus. Ao proibir ser chamado de rabi, Jesus alerta contra a tentação da glória humana e enfatiza a importância da humildade e do serviço a Deus.
Porquê não ser chamado de pai:
- Jesus usa o termo “Abba” (pai em hebraico) não como referência ao pai biológico, mas para alertar sobre o perigo de atribuir a outros o status e reconhecimento que só Deus merece. Enquanto é apropriado chamar nosso pai biológico de “pai”, Jesus nos adverte contra o uso desse título como uma forma de honra exagerada para outros indivíduos. Assim, ele nos encoraja a reservar essa reverência e reconhecimento somente para Deus.
Porquê não ser chamado de líder ou guia:
- Jesus reforça que Ele é o único líder verdadeiro e que devemos nos espelhar em sua humildade e sacrifício. Ao aconselhar contra o uso de títulos como “líder” ou “guia”, Jesus destaca o perigo do ego e da arrogância. Ele nos ensina que a verdadeira liderança vem do serviço e da submissão a Deus, e não de posições ou títulos humanos. A humildade é crucial, e mesmo aqueles com títulos merecidos devem evitar a arrogância, espelhando-se no exemplo de Jesus, que deu sua vida por nós.
Ameaças contra os escribas e fariseus
A partir desse ponto nas Escrituras, Jesus inicia diversas acusações ao grupo de fariseus e escribas da época afim de alertar e condenar atitudes contrárias aos princípios divinos, tais elas são:
- Entrada no Reino dos Céus: Os escribas e fariseus dificultavam o acesso do povo ao Reino dos Céus com regras morais extrabíblicas, desviando-se do princípio fundamental do arrependimento. Eles davam mais importância a aspectos secundários da Bíblia, como a limpeza dos copos, em detrimento de princípios mais significativos, como honrar a Deus e aos pais, amar e cuidar do próximo. Jesus enfatiza que, enquanto eles acreditavam estar no Reino, na realidade bloqueavam o caminho para aqueles que verdadeiramente o buscavam.
- Conversão de Gentios: Os escribas e fariseus viajavam extensivamente para converter gentios ao judaísmo, tornando-os prosélitos⁴. Jesus critica essa prática, afirmando que essas conversões resultavam em seguidores mais suscetíveis ao erro e à condenação.
- Juramentos e Votos: Jesus critica fortemente os escribas e fariseus por sua abordagem enganosa e hipócrita em relação aos juramentos e votos. Ele os condena por ensinarem que a validade de um voto poderia depender de detalhes técnicos insignificantes, como o objeto pelo qual o juramento era feito. Por exemplo, eles argumentavam que um voto feito pelo santuário não era tão vinculativo quanto um feito pelo ouro do santuário. Esta distinção arbitrária permitia que as pessoas evitassem as obrigações de seus votos, criando uma brecha na Lei. Jesus repreende essa prática, destacando a falta de integridade e honestidade em tal interpretação. Ele enfatiza que a verdadeira fé não se preocupa com tais manipulações legalistas, mas sim com a sinceridade e a retidão do coração. Jesus desafia essa abordagem superficial e legalista, lembrando-os de que todos os juramentos, independentemente de sua formulação, devem ser tratados com seriedade e respeito pela verdade. Ele convida os fariseus e escribas a uma compreensão mais profunda e autêntica da fé, onde a integridade e a honestidade são mais valorizadas do que a observância estrita e muitas vezes distorcida das regras.
- Prática do Dízimo: Jesus reprova os escribas e fariseus por darem o dízimo⁵ de itens insignificantes enquanto negligenciam aspectos mais importantes da Lei, como a misericórdia, a justiça social e a fidelidade a Deus. Ele usa a metáfora do mosquito e do camelo para ilustrar como eles se concentravam em minúcias em detrimento de questões maiores. Estes homens eram condutores cegos, como assim disse Jesus. A ideia por trás da metáfora feita por Jesus é que os fariseus eram minuciosos em observar regras e tradições menores, como coar o mosquito (ou seja, filtrar algo insignificante e pequeno), mas eram negligentes em relação a questões maiores, como a justiça e a misericórdia, representadas pelo camelo (um animal grande e significativo).
- Foco no Externo: Jesus critica a preocupação excessiva com as aparências externas em detrimento do interior. Ele enfatiza que a verdadeira pureza e dignidade vêm de dentro.
- Hipocrisia e Iniquidade: Jesus compara os escribas e fariseus a túmulos belos por fora, mas cheios de corrupção por dentro. Ele usa essa poderosa metáfora para ilustrar a hipocrisia deles: embora pareçam justos externamente, internamente estão repletos de iniquidade e falsidade. Essa crítica destaca a discrepância entre a aparência externa de retidão e a realidade de um coração corrompido. Jesus enfatiza que a verdadeira justiça não é apenas uma questão de aparência, mas requer uma genuína integridade interior.
- Relação com os Profetas: Jesus critica os escribas e fariseus por sua atitude em relação aos profetas do passado. Eles enfeitavam os túmulos dos profetas e afirmavam que, se tivessem vivido nos tempos de seus antepassados, não teriam participado do derramamento de sangue dos profetas. No entanto, Jesus os acusa de serem hipócritas, pois, apesar de suas palavras, suas ações revelam que eles são exatamente como seus antepassados, dispostos a perpetuar as mesmas injustiças e violências. Jesus prevê que essa hipocrisia e injustiça continuará, inclusive com a perseguição aos enviados por Ele.
- Condenação ao Julgamento: Ao questionar como os escribas e fariseus escapariam do julgamento da geena⁶ (uma referência ao inferno ou condenação eterna), Jesus condena severamente suas práticas e mentalidades. Ele profetiza que enviará profetas, sábios e escribas para ensinar o verdadeiro Evangelho, mas adverte que os fariseus e escribas perseguirão, açoitarão e até matarão esses enviados. Jesus declara que a responsabilidade pelo derramamento de sangue inocente recairá sobre eles, reforçando a seriedade de suas transgressões e a inevitabilidade do juízo divino.
Fiquemos atentos ao chamado e as instruções da Palavra de Deus
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha protege seus filhotes debaixo de suas asas, e não quisestes!
Eis que a vossa casa ficará abandonada pois eu vos digo: não me verão mais até que digam: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.
Eis que aguardamos a sua volta, Senhor Jesus. Que Zacarias 12 seja cumprido em toda a terra.
Notas de rodapé:
¹ – Tefilin é um termo hebraico que se refere aos pequenos recipientes de couro contendo trechos de textos sagrados usados por algumas correntes do judaísmo durante a oração.
² – Tzitzit é o termo hebraico para se referir aos pingentes colocados nas pontas das capas, e eles são usados como um lembrete dos mandamentos divinos. Nm 25:37-39.
³ – Rabi é uma palavra hebraica que significa: meu mestre / meu senhor.
⁴ – Prosélitos são pessoas que se converteram ao judaísmo a partir de uma religião ou crença diferente. O termo “prosélito” vem do grego “proselytos”, que significa “aquele que veio para o outro lado” ou “aquele que se aproximou”. No contexto judaico, um prosélito era alguém que, após passar por um processo de conversão, se tornava membro da comunidade judaica. Esse processo de conversão envolvia a aceitação das crenças e práticas religiosas judaicas, a circuncisão masculina (para homens não circuncidados) e a imersão em água ritual, conhecida como “mikveh”. A aceitação de prosélitos no judaísmo era uma prática comum no período do Segundo Templo em Jerusalém e continuou ao longo da história judaica. Os prosélitos eram considerados plenos membros da comunidade judaica, com os mesmos direitos e deveres que os judeus nascidos na fé.
⁵ – O dízimo, em sua essência original no hebraico, refere-se a uma prática na qual uma décima parte dos bens ou rendimentos era destinada como contribuição religiosa. A palavra hebraica para dízimo é “maaser” (מַעֲשֵׂר), que significa literalmente “a décima parte”. Na tradição judaica, o dízimo era uma obrigação religiosa estabelecida na Torá (Lei de Moisés). No livro de Levítico, capítulo 27, versículos 30-32, está escrito:
“Todos os dízimos da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das árvores, pertencem ao Senhor; são consagrados ao Senhor. Se alguém quiser resgatar alguma parte dos seus dízimos, acrescentará a ela um quinto. Quanto a cada décima parte dos rebanhos e dos rebanhos menores, de tudo o que passar debaixo da vara do pastor, a décima parte será consagrada ao Senhor.” Esses versículos indicam que os dízimos deveriam ser oferecidos ao Senhor como uma forma de reconhecimento e gratidão pelas bênçãos recebidas. Os dízimos eram geralmente oferecidos em forma de alimentos, como cereais, frutas e animais do rebanho.
Além do dízimo regular, havia também o “dízimo do Levita”, que era uma décima parte do dízimo total e era destinada aos levitas, a tribo designada para servir no Templo e nas funções religiosas. Isso garantia o sustento dos levitas, já que eles não possuíam terras para cultivo.
⁶ – A palavra “Geena” tem origem no termo grego “geena”, que por sua vez deriva do termo hebraico “Gehinnom” ou (גֵיהִנּוֹם). Geena é mencionada no Novo Testamento da Bíblia e é usada por Jesus em seus ensinamentos. Geena é uma referência a um lugar que era conhecido como o vale de Hinom, localizado ao sul de Jerusalém. No passado, o vale de Hinom era um local associado a práticas pagãs e idolatria, incluindo rituais de sacrifícios humanos. Mais tarde, o vale foi utilizado como um depósito de lixo onde o fogo era constantemente mantido para queimar o lixo e os corpos de animais mortos.
Jesus usou a palavra Geena para transmitir uma mensagem simbólica e espiritual. Em seus ensinamentos, ele se referiu à Geena como um lugar de julgamento, de punição eterna e de destino para os ímpios. Foi utilizado como uma imagem para descrever as consequências finais da rejeição a Deus e da prática do mal.
Fernando Rabello (11) 9 5489-8507
fernandorabello@estudandoabiblia.org
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