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Sumário
ToggleNeste estudo, vamos destacar:
- A crescente oposição dos líderes religiosos que buscam prender Jesus, devido à Sua popularidade crescente.
- Os irmãos de Jesus, que não acreditavam n’Ele como o Messias, sugerem que Ele se manifeste publicamente, mas Jesus responde que Sua hora ainda não havia chegado.
- Jesus começa a ensinar no Templo durante a festa, impressionando a multidão com Sua sabedoria e autoridade, sem ter a formação rabínica tradicional.
- A multidão se divide, com alguns reconhecendo Jesus como o Messias e outros questionando Sua origem e Seus ensinamentos.
- Jesus faz uma promessa de que, quem crer n’Ele, receberá “água viva”, referindo-se ao Espírito Santo que será dado aos crentes.
Introdução
O sétimo capítulo do Evangelho de João nos apresenta um ponto de virada importante no ministério de Jesus. Neste capítulo, Jesus participa da Festa dos Tabernáculos em Jerusalém, um evento que reunia milhares de judeus e oferecia um cenário significativo para Seus ensinamentos. A tensão entre Jesus e as autoridades religiosas aumenta, à medida que Ele continua desafiando as expectativas messiânicas e expondo as falhas de entendimento dos líderes. Durante a festa, Jesus revela Sua autoridade divina, provocando divisões entre o povo, que se vê dividido entre aceitá-Lo como o Messias ou rejeitá-Lo devido à sua origem controversa e aos Seus ensinamentos profundos. O capítulo também destaca a resistência de Jesus às pressões humanas, demonstrando que Ele segue o tempo de Deus para revelar Sua missão redentora.
Tema central:
- A revelação de Jesus como o Messias e a crescente divisão entre os que O aceitam e os que O rejeitam.
Principais personagens:
- Jesus;
- Os irmãos de Jesus;
- As autoridades religiosas;
- A multidão;
- Nicodemos.
Lições principais:
- A fé em Jesus não deve ser baseada apenas em milagres e sinais, mas na crença genuína em Sua pessoa e missão.
- Assim como na época de Jesus, Sua mensagem ainda provoca divisões. Alguns O aceitam como Senhor, outros rejeitam Sua autoridade.
- Jesus sabia o momento certo de agir, nos ensinando a confiar no plano de Deus e não nos nossos próprios tempos ou pressões externas.
- Muitas vezes, os líderes religiosos ou as autoridades podem se opor à verdade. Devemos estar atentos a esses desafios e buscar sempre a verdade de Deus.
- A mensagem de Jesus é universal e acessível a todos que creem n’Ele, sem distinção, assim como o convite para beber da “água viva”.
Principais versículos:
- 7:5 — Pois nem mesmo seus irmãos criam nele.
- 7:6 — Jesus lhes respondeu: ‘O meu tempo ainda não chegou, mas para vocês qualquer tempo é sempre apropriado.’
- 7:14 — Por volta do meio da festa, Jesus subiu ao templo e começou a ensinar.
- 7:16 — Jesus respondeu: ‘A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.’
- 7:17 — Quem quiser fazer a vontade de Deus conhecerá se a minha doutrina é de Deus ou se falo por mim mesmo.
- 7:31 — Muitos da multidão creram nele e disseram: ‘Será que, quando o Cristo vier, fará mais sinais do que este homem fez?’
- 7:52 — Eles lhe responderam: ‘Você também é da Galileia? Estude e veja que da Galileia não se levanta profeta.’
A Incredulidade dos Irmãos de Jesus (João 7:1-9)
1Depois disso, Jesus percorreu a Galileia, mantendo‑se deliberadamente longe da Judeia, porque ali os judeus procuravam matá‑lo. 2Mas, ao se aproximar a festa judaica das Cabanas, 3os irmãos de Jesus lhe disseram:
― Você deve sair daqui e ir para a Judeia, para que os seus discípulos possam ver as obras que você faz. 4Porque ninguém que deseja ser reconhecido publicamente age em segredo. Visto que você está fazendo estas coisas, mostre‑se ao mundo.
5Os seus irmãos disseram isso porque não criam nele.
6Então, Jesus lhes disse:
― O meu tempo ainda não chegou, mas para vocês qualquer tempo é apropriado. 7O mundo não pode odiar vocês, mas a mim odeia porque testemunho que as obras dele são más. 8Vão vocês à festa; eu ainda não subirei a esta festa, porque para mim ainda não chegou o tempo apropriado.
9Tendo dito isso, permaneceu na Galileia.
Comentário:
No contexto de João 7, a Festa dos Tabernáculos (Sukkot) se aproxima. Celebrada cinco dias após Yom Kippur (o dia do perdão), Sukkot ocorre quatro meses após a Páscoa (Pessach) e a festa das Semanas (Shavuot/Pentecostes). Esta festa marcava a colheita final do ano e servia como um lembrete para os israelitas de sua constante dependência de Deus para provisão e proteção. Além disso, simbolizava o tempo que o povo passou no deserto após a saída do Egito. O ambiente em Jerusalém durante Sukkot era de grande celebração, com uma multidão de pessoas, criando um cenário ideal para qualquer manifestação pública.
Os irmãos de Jesus, que ainda não O reconheciam como o Messias, viam em Sukkot uma oportunidade para Jesus se revelar ao público de Jerusalém. Eles sugerem que Ele vá até a festa e realize milagres, para que o povo O reconheça como o Messias prometido. No entanto, essa sugestão não vinha de uma fé pura, mas de uma provocação. Talvez refletisse uma incredulidade disfarçada, ou até o desejo de ver Jesus se conformar às expectativas populares, buscando reconhecimento e sucesso público. Acredito que, como qualquer irmão, eles queriam ver Jesus sendo “bem-sucedido” aos olhos do povo. Jesus, contudo, rejeita essa sugestão, afirmando que Seu “tempo” para se manifestar ao mundo ainda não havia chegado. Ele ensina que a verdadeira fé não depende de sinais e milagres públicos para ganhar aceitação, mas sim da crença genuína em Sua pessoa e missão. Sua resposta destaca que a fé deve ser fundamentada na verdade de Sua identidade como o Filho de Deus, não em um desejo de provas milagrosas.
Este episódio revela a tensão entre a necessidade humana de sinais visíveis como prova da divindade e a realidade de uma fé que vai além dessas expectativas. Mesmo entre aqueles mais próximos a Jesus, como Seus próprios irmãos e discípulos (com exceção de Pedro), havia dificuldades para compreender e aceitar a verdadeira natureza do messianismo de Jesus, que não se conformava às expectativas mundanas de um Messias triunfante e visível.
Sobre a festa de dos Tabernáculo (Sukkot)
A Festa dos Tabernáculos (Sukkot), também chamada de “Festa das Cabanas” ou “Festa das Moradas Temporárias”, é uma celebração anual que convoca todas as famílias de Israel a se reunirem em Jerusalém para celebrar a providência de Deus. Este rito está claramente descrito na Torá, em diversos textos: Levítico 23:33-45, Números 29:12-39 e Deuteronômio 16:13-15. A festa geralmente começa no final de setembro ou outubro e dura sete dias, com o oitavo dia sendo um dia de descanso, também conhecido como Shemini Atzeret.
Durante a festa, as famílias construíam cabanas (sukkot) feitas de folhas de palmeira e outros materiais naturais, com a parte superior parcialmente aberta para o céu. Isso simbolizava a lembrança dos 40 anos que os israelitas passaram no deserto, vivendo em tendas e dependendo da provisão de Deus para sua proteção e sustento. A festa também marcava a colheita final do ano, celebrando a abundância dos frutos da terra, o que tornava Sukkot uma ocasião de ações de graças a Deus pela provisão divina. Para observar a festa, as pessoas levavam ao Templo uma cidra, um fruto cítrico que representava os frutos da Terra Prometida. Elas também balançavam ramos de palmeira, murta e salgueiro juntas, como parte dos rituais da celebração. O simbolismo da festa ia além da história de Israel e tocava também no destino dos gentios, com profecias ligando Sukkot à era Messiânica, que, segundo o Novo Testamento, se cumprirá após a segunda vinda de Jesus.
A Festa de Sukkot à Luz do Novo Testamento
No livro de Zacarias, encontramos uma profecia que conecta a Festa de Sukkot à vinda do Messias e ao destino das nações:
Zacarias 14:16-19
Então, os sobreviventes de todas as nações que atacaram Jerusalém subirão ano após ano para adorar ao Rei, o Senhor dos Exércitos, para celebrar a Festa das Cabanas. Se algum dos povos da terra não subir a Jerusalém para adorar ao Rei, o Senhor dos Exércitos, tampouco virá sobre ele a chuva. Se os egípcios não subirem para participar, o Senhor mandará sobre eles a praga com a qual afligirá as nações que se recusarem a subir para celebrar a Festa das Cabanas. Sim, esta será a punição do Egito e de todas as nações que não subirem para celebrar a Festa das Cabanas.
Esses versículos destacam a universalidade da celebração de Sukkot na era Messiânica, quando as nações de toda a terra reconhecerão a soberania de Deus e participarão da adoração em Jerusalém. A festa simboliza, assim, a reconciliação de todas as nações com Deus, no momento da segunda vinda do Messias, que trará a restauração de todas as coisas.
David Stern, em seus comentários sobre o novo Testamento, observa que a profecia aponta para a segunda vinda de Jesus, quando Ele estabelecerá Seu reino e todas as nações serão convidadas a celebrar Sukkot, reconhecendo-O como o Rei dos Reis. A celebração da Festa das Cabanas, portanto, não só recorda a provisão de Deus no passado, mas também aponta para a futura celebração universal do reinado do Messias sobre todas as nações.
Jesus na Festa dos Tabernáculos (João 7:10-24)
10Contudo, depois que os seus irmãos subiram para a festa, ele também subiu, não publicamente, mas em segredo. 11Os judeus o estavam procurando na festa e perguntavam:
― Onde está aquele homem?
12Entre as multidões havia muitos boatos a respeito dele. Alguns diziam:
― É um bom homem.
Outros respondiam:
― Não, ele está enganando o povo.
13Ninguém, porém, falava dele em público, por medo dos judeus.
Jesus ensina na festa
14Quando a festa estava na metade, Jesus subiu ao templo e começou a ensinar. 15Os judeus ficaram admirados e perguntaram:
― Como foi que este homem adquiriu tanta instrução sem ter estudado?
16Jesus respondeu:
― O que ensino não procede de mim. Vem daquele que me enviou. 17Se alguém decidir fazer a vontade de Deus, saberá se o meu ensino vem de Deus ou se falo por mim mesmo. 18Aquele que fala por si mesmo busca a sua própria glória, mas aquele que busca a glória de quem o enviou é uma pessoa verdadeira; não há nada de falso a seu respeito. 19Moisés não deu a lei a vocês? No entanto, nenhum de vocês obedece a ela. Por que procuram matar‑me?
20― Você está endemoniado — respondeu a multidão. — Quem está procurando matar você?
21Jesus lhes disse:
― Fiz um milagre, e vocês todos estão admirados. 22Porque Moisés deu a vocês a circuncisão — embora, na verdade, ela não tenha vindo de Moisés, mas dos patriarcas —, vocês circuncidam no sábado. 23Ora, se um menino pode ser circuncidado no sábado para que a lei de Moisés não seja quebrada, por que vocês ficam cheios de ira contra mim por ter curado completamente um homem no sábado? 24Não julguem apenas pela aparência, mas façam julgamentos justos.
Comentário:
Após seus irmãos irem à Festa dos Tabernáculos, Jesus decide ir também, mas faz isso em segredo, para evitar atrair atenção pública. Havia uma crescente tensão entre Jesus e as autoridades religiosas, que já estavam planejando como prendê-lo. O clima de hostilidade exigia cautela, já que o povo estava dividido sobre quem Ele realmente era, com muitos querendo proclamá-lo rei, o que poderia gerar um conflito com as autoridades romanas. Contudo, Jesus não iria deixar de cumprir os mandamentos de Deus, especialmente os que se referem às festas religiosas. Mesmo em um ambiente hostil, Ele vai ao Templo e começa a ensinar, direcionando Suas palavras àqueles que buscavam um conhecimento verdadeiro de Deus.
As pessoas ficam admiradas com a profundidade do ensino de Jesus, questionando como Ele poderia possuir tamanha sabedoria sem ter sido instruído nas escolas rabínicas ou nas sinagogas, que eram os centros tradicionais de educação religiosa. Quando questionado sobre a origem de Seu ensino, Jesus responde que Sua doutrina não é Sua, mas de Deus, aquele que O enviou. Ele ensina que quem deseja realmente fazer a vontade de Deus reconhecerá que Seu ensino vem diretamente do Pai. Isso revela que o conhecimento de Jesus não se baseia em uma educação formal humana, mas em Sua relação direta e íntima com Deus, o Criador, destacando Sua messianidade e o cumprimento das profecias sobre Ele. Jesus, ao mesmo tempo em que cumpre a Lei, desafia as expectativas humanas, oferecendo uma verdade que vai além dos ensinamentos tradicionais das escolas religiosas da época.
A multidão rejeita a fala de Jesus quando Ele menciona que algumas pessoas queriam matá-lo. Na realidade, Jesus estava sendo notado e perseguido pelas autoridades religiosas, em grande parte por causa das curas realizadas no sábado. Na tradição da época, muitos acreditavam que nada poderia ser feito no sábado, nem mesmo curas. Contudo, Jesus desafia essa mentalidade ao mencionar a circuncisão, que era realizada no sábado e, segundo o raciocínio rabínico, não violava o mandamento do descanso sabático. Se a circuncisão era considerada válida como cura para um membro do corpo, por que curar um homem por completo, como Jesus fez, seria visto como violação do sábado? Jesus usa o método rabínico qal wahomer para desafiar esse raciocínio, mostrando que se algo tão significativo como a circuncisão pode ser feito no sábado, ainda mais a cura completa de um homem deveria ser aceitável.
Jesus, então, chama a atenção para a importância de julgar com justiça, não segundo as aparências externas, mas com base na verdade de Deus. Ele sugere que o julgamento justo deve ser fundamentado no que Deus ensina, e não nas tradições humanas, desafiando a superficialidade dos julgamentos baseados em normas religiosas tradicionais.
Divisão sobre a Identidade de Jesus (João 7:25-36)
25Então, alguns habitantes de Jerusalém começaram a perguntar:
― Não é este o homem que estão procurando matar? 26Aqui está ele, falando publicamente, e não lhe dizem nada. Será que as autoridades chegaram à conclusão de que ele é realmente o Cristo? 27Nós sabemos de onde é este homem. Quando, porém, o Cristo vier, ninguém saberá de onde ele é.
28Enquanto ensinava no pátio do templo, Jesus clamou em alta voz:
― Vocês me conhecem e sabem de onde sou? Eu não estou aqui por mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro. Vocês não o conhecem; 29eu, porém, o conheço, porque venho da parte dele e ele me enviou.
30Então, tentaram prendê‑lo, mas ninguém pôs as mãos nele, porque a sua hora ainda não havia chegado. 31No entanto, muitos no meio da multidão creram nele e diziam:
― Quando o Cristo vier, fará mais sinais milagrosos do que este homem fez?
32Os fariseus ouviram a multidão sussurrando essas coisas sobre ele. Então, os chefes dos sacerdotes e os fariseus enviaram guardas do templo para prendê‑lo.
33Jesus lhes disse:
― Estou com vocês apenas por pouco tempo e logo irei para aquele que me enviou. 34Vocês procurarão por mim, mas não me encontrarão; vocês não podem ir ao lugar onde eu estarei.
35Os judeus disseram uns aos outros:
― Para onde pretende ir este homem que não o possamos encontrar? Pretende ir para onde vive o nosso povo, disperso entre os gregos, a fim de ensiná‑los? 36O que ele quis dizer quando falou: “Vocês procurarão por mim, mas não me encontrarão” e “vocês não podem ir ao lugar onde eu estarei”?
Comentário:
Durante sua permanência no Templo, instruindo e ensinando a muitos, algumas pessoas começaram a reconhecer Jesus como o homem que os líderes religiosos queriam prender. Isso gerou questionamentos entre o povo sobre se os líderes religiosos haviam reconhecido Jesus como o Messias e, se assim fosse, por que não O prenderam ainda. A preocupação com a proclamação pública de Jesus como o Messias era fundamental para o plano divino de salvação, pois isso poderia comprometer a extensão da aliança feita com os judeus para alcançar os gentios, ou seja, todos os povos. Este tema, central na obra de Paulo, é amplamente abordado em Romanos, onde o apóstolo fala da salvação que se estende aos gentios e como alguns dos judeus não reconheceram Jesus como o Messias, enquanto outros, os gentios, foram chamados para a fé. Paulo discute a dureza do coração de alguns e a graça de Deus, que se revela aos que acreditam, tanto judeus quanto gentios (Romanos 9-11).
No contexto de João 7, muitos dos que estavam ouvindo Jesus não estavam dispostos a aceitá-Lo como o Messias sem antes ver mais sinais e milagres. Essa busca por mais sinais revela uma incredulidade consciente por parte daqueles distantes de Deus. Mesmo diante da sabedoria e autoridade com que Jesus ensinava, que por si só já deveria ser um sinal de Sua natureza divina, eles não estavam satisfeitos. Jesus havia realizado muitos sinais, mas ainda assim, muitos continuavam a rejeitá-Lo, evidenciando que não eram verdadeiramente chamados por Deus.
Jesus, em sua missão, procurava reunir as ovelhas perdidas de Israel e conduzi-las à salvação por meio da fé no Enviado de Deus. No entanto, aqueles que rejeitam a mensagem de Jesus, apesar dos sinais, demonstram que não são parte do rebanho de Deus, pois, como Ele mesmo ensina, “a verdadeira ovelha ouve a voz do Pastor e obedece”. Esses sinais, milagres e ensinamentos não eram apenas para impressionar, mas para chamar à fé genuína em Seu sacrifício redentor.
O Convite de Jesus: A Água Viva (João 7:37-39)
37No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou‑se e disse em alta voz:
― Se alguém tem sede, venha a mim e beba. 38Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.
39Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então, o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado.
Comentário:
No último dia da Festa dos Tabernáculos, que era o auge da celebração, Jesus se levanta e faz um convite ao povo. Durante a festa, uma das cerimônias mais importantes era o ritual que faziam com a água, onde os sacerdotes derramavam água do tanque de Siloé no altar, simbolizando a oração por chuvas e a dependência de Deus para a provisão agrícola. Este ato litúrgico lembrava aos israelitas que Deus era a fonte de toda a vida e sustento. Aproveitando essa ocasião, Jesus usa a água como um símbolo para o Espírito Santo. Ele faz um convite espiritual, dizendo que aqueles que têm sede, não apenas física, mas espiritual, podem vir a Ele e beber. Jesus está apontando para a provisão divina de vida espiritual, que seria dada a todos os que cressem nEle.
Jesus, ao citar Isaías 55:1, conecta sua mensagem ao convite profético de Isaías, onde Deus chama todos os sedentos a virem e beberem de graça. Este convite simboliza o início de um novo tempo, o tempo da graça, onde a salvação é oferecida livremente a todos que desejam se achegar a Deus por meio de Jesus. Ele destaca que aqueles que se aproximarem d’Ele, crendo em Sua mensagem, receberão a água viva, que é o Espírito Santo. Esta promessa de “água viva” refere-se à presença contínua do Espírito Santo na vida dos crentes, trazendo renovação e vida eterna. Jesus está declarando que Ele é a fonte dessa água, cumprindo as antigas promessas e oferecendo a verdadeira satisfação espiritual que só pode ser encontrada n’Ele.
Essa revelação de Jesus como a fonte da água viva é ecoada em Apocalipse 22:17, que diz:
O Espírito e a noiva dizem: Vem! Todo aquele que ouvir diga: Vem! Quem tiver sede venha, e quem quiser beba de graça da água da vida.
Essa passagem reforça a oferta gratuita e universal da salvação, que é acessível a todos os que reconhecem a necessidade de um Salvador e se aproximam de Jesus com fé.
Reação das Multidões e dos Líderes (João 7:40-52)
40Ouvindo as suas palavras, muitos no meio do povo disseram:
― Certamente este homem é o Profeta.
41Outros disseram:
― Ele é o Cristo.
Ainda outros perguntaram:
― Como pode o Cristo vir da Galileia? 42A Escritura não diz que o Cristo virá da descendência de Davi, da cidade de Belém, de onde era Davi?
43Assim, o povo ficou dividido por causa de Jesus. 44Alguns dentre eles queriam prendê‑lo, mas ninguém lhe pôs as mãos.
A incredulidade dos líderes judeus
45Finalmente, os guardas do templo voltaram aos chefes dos sacerdotes e aos fariseus, os quais lhes perguntaram:
― Por que vocês não o trouxeram?
46― Ninguém jamais falou da maneira que esse homem fala — declararam os guardas.
47― Será que vocês também foram enganados? — perguntaram os fariseus. 48— Por acaso, alguém das autoridades ou dos fariseus creu nele? 49Não! Mas essa ralé que nada entende da lei é maldita.
50Nicodemos, um deles, que anteriormente tinha procurado Jesus, perguntou‑lhes:
51― A nossa lei condena alguém sem primeiro ouvi‑lo para saber o que ele tem feito?
52Eles responderam:
― Você também é da Galileia? Verifique e descobrirá que da Galileia não surge profeta.
Comentário:
A pregação de Jesus durante a Festa dos Tabernáculos provocou uma variedade de reações entre as multidões. Alguns reconheceram Sua autoridade e verdade, afirmando: “Este é o verdadeiro Messias.” Essas pessoas foram tocadas pelo Espírito de Deus, percebendo a profundidade e o poder das palavras de Jesus, e reconheceram nelas o cumprimento das promessas messiânicas feitas ao longo das Escrituras. Elas viram em Jesus o prometido Salvador, cujo ensino e ações confirmavam a profecia.
No entanto, havia também aqueles que questionavam a veracidade de Jesus como o Messias. Eles argumentavam que, segundo as Escrituras, o Messias deveria nascer em Belém, a cidade de Davi, e não em Nazaré, uma cidade da Galileia. Esse mal-entendido sobre a origem de Jesus, que, na verdade, nascera em Belém, como é revelado em Mateus 2:1 e Lucas 2:4-7, contribuiu para a divisão entre o povo. Alguns não estavam dispostos a aceitar que o Messias pudesse vir de um lugar tão desprezado como Nazaré, sem entender que a verdadeira linhagem de Jesus se alinhava perfeitamente com as Escrituras, tanto em Sua origem como da casa de Davi quanto em Sua cidade natal.
Essa confusão sobre a origem de Jesus e a expectativa popular de um Messias vindouro de Belém é um exemplo de como os próprios preconceitos e interpretações humanas das Escrituras podem obscurecer a verdadeira revelação divina. Jesus, como o Messias prometido, veio de uma maneira que muitos não esperavam, desafiando as convenções e mostrando que o cumprimento de Deus nem sempre segue as expectativas humanas, mas se alinha com o plano soberano de Deus.
Rejeição dos Líderes Religiosos
Enquanto parte das multidões começava a perceber que Jesus poderia ser o Messias, os líderes religiosos ficavam cada vez mais preocupados. Eles temiam perder seu prestígio e controle sobre o povo, vendo em Jesus uma ameaça à sua autoridade e posição. Em sua tentativa de desacreditar Jesus, religiosos fariseus e principais sacerdotes mostravam-se cada vez mais hostis, focados em encontrar uma maneira de eliminá-lo.
No meio desse cenário, Nicodemos, um membro respeitado do Sinédrio que anteriormente havia procurado Jesus à noite para aprender mais sobre Ele, se levanta para questionar seus colegas. Ele sugere que, segundo a Lei, um homem não pode ser julgado sem antes ser ouvido. Esta intervenção de Nicodemos é significativa, pois, embora ele ainda não declarasse abertamente sua fé em Jesus, demonstrava um senso de justiça e uma disposição para dar a Jesus uma chance justa. Isso também indicava que a mensagem de Jesus estava começando a encontrar um espaço até mesmo entre os membros da liderança religiosa, apesar da oposição generalizada.
Comentários sobre João 7:53-8:11
No final de João 7, lemos que “cada um foi para sua casa”. Este versículo serve como uma transição para o episódio seguinte, que começa no capítulo 8, onde encontramos o relato da mulher adúltera. No entanto, é importante observar que a passagem de João 7:53 a 8:11, que descreve a história da mulher, não aparece nos manuscritos mais antigos do Evangelho de João. Apesar disso, a história é amplamente reconhecida e preservada em várias tradições cristãs.
A omissão dessa passagem nos primeiros manuscritos não diminui seu valor teológico ou histórico, pois ela está em harmonia com o ensino de Jesus sobre perdão, graça e misericórdia. Muitos estudiosos acreditam que, embora a história possa ter sido uma tradição oral que circulou entre as primeiras comunidades cristãs, ela é considerada canônica e foi inclusa nas Escrituras por sua importância espiritual.
Portanto, mesmo com a questão da origem textual, o relato da mulher adúltera continua sendo uma parte valiosa da Bíblia, oferecendo importantes lições sobre o perdão de Jesus e Seu desafio à hipocrisia e ao julgamento dos outros.
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